quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Santa Catarina comemora 180 Anos de Imigração Alemã
No próximo domingo, 1º de março, começam as comemorações dos 180 Anos da Imigração Alemã em Santa Catarina, que se estenderão até o dia 31 de março de 2010, com calendário em fase de atualização. A solenidade de abertura será em São Pedro de Alcântara.
A imigração alemã em SC começou oficialmente no dia 1º de março de 1829 em São Pedro de Alcântara, nas proximidades de Florianópolis e é ali que será o ato inaugural. Um folheto convite dirigido a todos os leitores diz o seguinte: A Prefeitura Municipal de São Pedro de Alcântara, com o apoio da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte e Comissão Organizadora dos Festejos, têm a honra de convida V. Sa. e Família para participarem das comemorações alusivas ao centésimo octogésimo aniversario da Imigração Alemã de Santa Catarina, em São Pedro de Alcântara, a mais antiga colônia do Estado.
Os festejos transcorrerão a partir do dia 1º de março de 2009, domingo, na sede da histórica colônia, com a seguinte programação:
09h00 - Missa com canto coral sob a regência do maestro Acácio Santana.
10h30min - Apresentação de bandinha típica alemã em frente à igreja matriz e cortejo até o salão de festas.
11h00 - Apresentação da Orquestra de Câmara de São Pedro de Alcântara.
11h40 - Composição da mesa de autoridades, com a presença do cônsul-geral da Alemanha no RS e SC, Norbert Kürstgens, e abertura oficial dos festejos.
12h40 - Almoço.
13h00 - Concurso de chopp em metro.
14h00 - Encontro regional de grupos de danças folclóricas.
16h00 - Início das competições germânicas, com disputas de Serrador e Lenhador.
No próximo domingo, portanto, todos em São Pedro de Alcântara, cidadezinha e município de 3.700 habitantes, a 31 km de Florianópolis, para o início festivo dos 180 Anos da Imigração Alemã em SC.
Há 180 anos...
.... a situação dos "hóspedes" alemães do governo imperial brasileiro, após sua chegada ao Rio de Janeiro, não estava para festas. O historiador catarinense Toni Jochem, de Palhoça, especialista em história da imigração alemã, cujas obras recomendamos (cfr. www.tonijochem.com.br), mostra bem as agruras a que foram submetidos pelas autoridades locais os primeiros 635 alemães ao chegarem a Florianópolis:
Eram 146 famílias. Totalizam-se, assim, 635 pessoas. Do Rio de Janeiro foram despachados em 28 de outubro de 1828, pelo Monsenhor Malheiros, a bordo dos veleiros "Luiza" (um brigue) e "Marquês de Viana" (um bergantim), com destino a Desterro (hoje Florianópolis), sul do Brasil, onde aportaram, respectivamente, em 07 e 12 de novembro de 1828. O brigue "Luiza" transportou 276 pessoas e o bergantim "Marquês de Viana", 359 pessoas.
Após a chegada ao Desterro, os que foram transportados pelo bergantim "Marquês de Viana" ficaram alojados nos quartéis da capital catarinense (campo de manejo), juntos aos Batalhões 8º, 18º, 27º e 4º de artilharia, enquanto os que vieram no brigue "Luiza", por haverem adoecido durante a viagem, foram "hospedados", involuntariamente, "livres de comunicação", e completamente isolados na Armação da Lagoinha -- antigo estabelecimento de pesca de baleias fundado na costa oriental da Ilha de Santa Catarina. Lá, também, estava aquartelado o 14º Batalhão do Exército. Neste estabelecimento os imigrantes foram amparados, no que tange à assistência médica, por conta do governo provincial. Completamente isolados e em plena ociosidade, requereram, naquela localidade, terras para cultivar e de cuja solicitação não obtiveram resposta.
E continua a narrativa do historiador catarinense Toni Jochem:
Assim ficaram os imigrantes, tanto os transportados pelo "Luiza" quanto os pelo "Marquês de Viana", à espera, impacientes e em parte desanimados diante da morosidade dos poderes constituídos referente aos encaminhamentos elementares visando a sua transferência para a mata virgem.
... Essa morosidade tinha motivo: as terras destinadas a recebê-los ainda não haviam sido demarcadas e, portanto, não havia condições humanas para "enfrentar" a floresta. Assim esgotaram-se, nos quartéis, os últimos 50 dias de 1828. Lá passaram o natal e o ano novo, rolando aqui, empurrados dali, sem nenhuma privacidade, dividindo espaço com os soldados da campanha - nenhum cronista registrou como viveram, suas espectativas e esperanças, como reivindicaram seus direitos, como sobreviveram e como ocuparam-se diariamente durante aqueles meses mais longos de suas vidas. Irritados e impacientes diante da insegurança provocada pela peculiaridade da situação, homens habituados ao trabalho e agora ociosos, curtiam desgosto próprio e alheio nas dependências de alojamentos humilhantes.
Mais uma passagem sobre os alemães que aguardavam impacientes, em Florianópolis, o momento de poderem iniciar o cultivo da terra, na descrição do historiador Toni Jochem:
No decorrer desse tempo, muitas queixas foram apresentadas, ora ao governo catarinense ora às autoridades ligadas à colonização, na Corte Imperial no Rio, por causa da situação difícil decorrente do alojamento que a cada dia se agravava. Queixavam-se, outrossim, da iminente perda das sementes, trazidas da Alemanha, destinadas às primeiras culturas na nova colônia. Em mostra de impaciência e irritação, um grupo de 26 imigrantes alojados na Armação da Lagoinha, não obstante a beleza paradisíaca da praia em cujas imediações se encontravam, em petição datada de 25 de janeiro de 1829, reiterava ao presidente Albuquerque Mello, da Província de Santa Catarina, seu pedido no sentido de encaminhá-los sem novas delongas para o núcleo colonial, como lhes havia sido prometido ainda na Europa. Manifestando o desejo de sair da imposta e exasperante ociosidade, ofereceram-se àquele governante para realizar trabalhos, como, por exemplo, a abertura de estradas.
Quem de nós, com mais de 50 anos, não se lembra do antigo espírito comunitário dos "colonos" teuto-brasileiros que abriam estradas, construíam escolas e faziam festas de igreja para proverem suas necessidades, não atendidas pelo Estado. Diante de fatos como estes, fica também difícil acusar os "alemães" de isolamento em sua nova pátria. Sem o devido respeito das autoridades, sem conhecimento do idioma e sem oportunidade de aprendê-lo, jogados no meio da selva, sem escolas, sem a mínima infra-estrutura, eles jamais teriam sobrevivido culturalmente e espalhado o progresso por onde se estabeleciam se não tivessem desenvolvido uma forte e decisiva coesão interna e comunitária.
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