segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Brasil realiza primeiros sequenciamentos do genoma do câncer de mama


A Rede de Pesquisa sobre o Câncer já encontrou os primeiros resultados de sequenciamento do genoma do câncer de mama feitos em laboratórios no país. Uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), a rede foi criada em agosto de 2008 para unir os diversos grupos de pesquisa brasileiros que desenvolviam estudos fragmentados sobre câncer em busca de gerarem produtos, principalmente na área de terapia, que tenham impacto na saúde da população. Os primeiros resultados serão divulgados pelos coordenadores na primeira semana de março, em São Paulo.

Para os pesquisadores, conhecer a biologia do tumor é importante também para entender o que está acontecendo com o paciente e para definir qual o melhor esquema de tratamento. As informações geradas pelo projeto permitirão aumentar o leque de marcadores moleculares para o diagnóstico e prognóstico da doença, assim como levar à identificação de novos alvos terapêuticos, diminuindo dessa forma a mortalidade e morbidade associadas ao câncer de mama.

"Decidimos, num primeiro momento, direcionar as pesquisas para tumores prevalentes no Brasil e, como não dá para começar tudo de uma vez, focamos como primeiro objeto de estudos da rede o câncer de mama", explicou a coordenadora da rede, Anamaria Camargo, pesquisadora do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer em São Paulo.

A rede foi dividida em três linhas de pesquisas: básicas, translacionais e clínicas, envolvendo cerca de 25 grupos, com pesquisadores de todo país, que começaram a trabalhar simultaneamente nos projetos desde o início da rede. "Nosso objetivo é tornar os grupos capazes de estudar a genética - a biologia do tumor -, identificar o que está acontecendo nesta célula e, com base nestas informações, conseguir gerar metodologias de diagnóstico e de tratamentos mais eficientes", disse Anamaria.

Os grupos começaram a se reunir no ano passado para traçar estratégias de trabalho e parcerias. Na área básica, os grupos focaram o objetivo em caracterizar a linhagem tumoral do câncer de mama. Os grupos de epidemiologia estão se organizando para montar um sistema de documentação de câncer no país, com estudos epidemiológicos que envolvam grande parte da população, por exemplo, identificando quantos casos existem, qual a incidência, quais são os fatores ambientais envolvidos. Os grupos clínicos serão responsáveis em implementar estas informações nas rotinas dos pacientes.

Primeiros resultados

Reunidos em Petrópolis (RJ), nos dias 17 e 18 de fevereiro de 2009, os pesquisadores representantes dos grupos de pesquisa básica da rede, discutiram as estratégias de sequenciamento, análise computacional dos dados e validação das mutações encontradas.

"A parte do sequenciamento está vivendo uma revolução. Há cinco anos nós celebramos ter gerado um milhão de sequências no projeto genoma do câncer que foi feito em São Paulo. Hoje, vimos que se consegue gerar setenta vezes isso, setenta milhões de sequências. Isto se dá com a introdução destes novos equipamentos instalados no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC)", explicou a coordenadora Anamaria.

De maneira pontual, os grupos de pesquisa básica estão buscando caracterizar a linhagem tumoral do câncer de mama. Uma linhagem que não representa toda a complexidade da doença, mas terá o objetivo de desenvolver tanto a capacidade dos pesquisadores em gerarem como analisarem estes dados. "Esta é apenas uma linhagem, mas como é uma área ainda muito nova, tanto para nós como também nos demais países. Estamos discutindo qual a melhor estratégia para fazer isso, junto com a equipe do Venter Institute, que nos assessora nesse trabalho", completa a coordenadora.

Envolvimento internacional

"O Instituto Ludwig, basicamente, vem trazer uma colaboração externa e para acelerar a adoção da nova tecnologia, porque este projeto de mama é de grande interesse para nós como instituto, e isso também trará uma contribuição crucial e muito boa para o Brasil que possui uma população grande e tem um sistema de saúde único, socializado, onde o grande problema com o câncer é que os tratamentos são muito caros e tem que ter uma ferramenta objetiva para decidir que tratamento vai responder e qual não vai", declarou Andrew Simpson, diretor executivo do Instituto Ludwig de NY.

Entre os participantes, estavam representantes e o diretor executivo de Programs & Operation do Ludwig Institute for Cancer Research (de Nova York, EUA), Andrew Simpson, representantes e o director-adjunto e líder do grupo em medicina genômica do J. Craig Venter Institute (EUA) , Robert Strausberg, o diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica, Pedro Leite da Silva Dias, representantes do Ministério da Saúde, CNPq, Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer de São Paulo, do Instituto Nacional de Câncer, da Fiocruz, Universidade de Brasília, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Faculdade de Medicina da USP e da Roche Applied Science.

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