Ovos de chocolate, colombas pascais e bacalhau...
Podemos comer todas estas iguarias à vontade?
Será que um personagem infantil sob a forma de um brinquedo pode influenciar o hábito alimentar de uma criança? Hoje, temos no mercado ovos recheados de rádios, relógios, mini-games, bonecos de super heróis, mini barbies, brinquedos eletrônicos que emitem sons e até fadas com sensores de luz que se ascendem quando a criança se aproxima da varinha de condão... “Para saber a resposta, experimente presentear seu filho com um ovo recheado apenas de bombons! Provavelmente, ele ficará decepcionado”, diz a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
Recentemente, o Ministério Público Federal de São Paulo recomendou que as principais redes de fast-food suspendam a venda promocional de brinquedos em suas lanchonetes. De acordo com o MPF, a venda do lanche acompanhado de um brinde estimularia a adoção de hábitos alimentares pouco saudáveis nas crianças, influenciando assim a forma com que elas se alimentarão durante toda a vida. Preocupações semelhantes têm o IDEC- Instituo de Defesa do Consumidor – e a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
E em relação aos ovos de Páscoa? “Sozinhos, sem brinquedos, as crianças já são presenteadas com cerca de 1200 calorias de chocolate e 56g de gordura saturada (em um ovo de apenas 200g). A presença de brinquedos faria com que o consumo dos ovos aumente? Esta é uma reflexão necessária nos dias de hoje, quando pensamos muito em hábitos alimentares saudáveis”, afirma a endocrinologista.
Mesmo com “a ameaça dos brindes e brinquedos”, não devemos encarar a Páscoa como uma ameaça à saúde e às dietas. A data é motivo de festa e encontro entre amigos e familiares. Como toda data festiva, o cardápio envolve alimentos mais calóricos e oportunidades de degustá-los em maior quantidade... A preocupação deve ser com as múltiplas ofertas nos corredores dos supermercados, que montam túneis com as mais variadas marcas e tamanhos de ovos de Páscoa, fazendo com que balancem todas as nossas promessas de contenção de gastos e de calorias.
As crianças são acostumadas, desde muito cedo, a receberem ovos da madrinha, dos avós, dos pais e dos tios. Todos muito bem intencionados, querendo presenteá-las com o maior e o mais novo lançamento do mercado, mas criando um vínculo distorcido entre alimento e personagens de um mundo de sonhos e fantasias que elas idealizam.
“O chocolate é um dos alimentos de maior valor calórico da nossa dieta. Se já sabemos que uma criança, em cada quatro, precisa perder peso, não podemos permitir que elas recebam dúzias de ovos de Páscoa e passem a comê-los um a um, até que obtenham todos os brinquedos ou surpresas que recheiam essas guloseimas. Se o vínculo das crianças é com seus personagens e brinquedos favoritos, é melhor presenteá-los com brinquedos ao invés de chocolates.”, reforça a diretora do Citen.
O prazer do chocolate
Apresentar-se como chocólatra parece mais uma resposta ou explicação para aliviar a culpa por não conseguirmos lidar com a dificuldade de controlar o consumo de chocolate. “Não precisamos abolir o consumo desta iguaria, mas precisamos comê-lo com moderação, pois trata-se de um alimento muito calórico e rico em gordura saturada”, diz Ellen Paiva.
O que transforma a Páscoa num risco real à boa forma e à saúde é o hábito de fazer dela uma oportunidade de consumo exagerado de chocolates, com o aval da festa. Às vezes, o consumo extra pode perdurar meses, até que o estoque infindável de ovos termine. Nesse caso, não há como se livrar da culpa e dos quilinhos a mais.
Apesar disso, nada nos impede de escolher o nosso chocolate preferido e saboreá-lo com prazer. Pode ser ao leite, crocante, trufado, branco, meio amargo, recheado ou até mesmo de soja, desde que o consumo não exceda a cota calórica, que inviabiliza qualquer projeto de manutenção do peso.
“O chocolate, de uma maneira geral, pode conter de 550 a 580 calorias por 100g. Os ovos de Páscoa não fogem a essa regra. Atualmente, contamos com as versões lights dos ovos de Páscoa, que tem em média 25% menos calorias em relação às suas versões tradicionais. Por outro lado, os ovos diet não apresentam essa vantagem calórica, apenas não contêm açúcar e por isto mesmo podem ser consumidos pelos pacientes diabéticos. Mesmo assim, os ovos diet têm geralmente maior teor de gorduras totais e de gordura saturada, o que torna questionável o seu consumo por parte desses pacientes, que muitas vezes, necessitam reduzir o consumo de gorduras, tanto quanto o consumo de açúcar”, explica a médica, que também é nutróloga.
Ellen Paiva também destaca que o chocolate contém componentes nutricionais importantes, principalmente na sua versão amarga. “São os polifenóis, antioxidantes, também presentes no vinho tinto, nas frutas vermelhas, no chá verde e na cebola. Essas substâncias causam redução dos radicais livres nas células, aquelas substâncias relacionadas ao envelhecimento e à morte celular. Uma barra de 40 gramas de chocolate amargo contém cerca de 200mg de polifenóis, quantidade semelhante àquela encontrada em uma taça de vinho tinto. Entretanto, esse tipo de chocolate é mais calórico por ter uma concentração maior de cacau. Seu consumo não deve ultrapassar 10g ou 60 calorias/dia, em situações normais, sem festa”, alerta a especialista.
Colombas pascais
Tão tentadoras quanto os panetones no Natal, são as colombas na Páscoa... As colombas pascais, por mais incrível que isto possa parecer, conseguem ser tão ou mais calóricas que os ovos de Páscoa. Elas possuem, em média, de 250 a 300 calorias por fatia de 80g.
“Além disso, essas iguarias contêm uma quantidade enorme de gordura saturada e de gordura vegetal hidrogenada. Para uma tolerância de ingestão diária de até 2,0g ao dia de gordura trans hidrogenada, em uma dieta de 2000 calorias diárias, as colombas conseguem ter até 4,6g desse tipo de gordura por fatia de 80g. Dessa forma, não vale a pena tê-las em nossa mesa de Páscoa, principalmente pela saúde do nosso coração, que é o maior prejudicado com a ingestão desse tipo de gordura”, aconselha a nutróloga Ellen Paiva.
Um pouco de bacallhau?
“Mantendo a tradição do peixe na Sexta-Feira Santa, o bacalhau é bem vindo por todo o seu potencial nutritivo. É rico em vitamina B1, vitamina D, sódio, magnésio, proteínas, além de ácidos graxos ômega 3 e ômega 6, que são grandes aliados na prevenção de doenças cardiovasculares, são gorduras benéficas que não aumentam o colesterol sangüíneo”, explica a endocrinologista Ellen Paiva.
As bacalhoadas são pratos muito saborosos e saudáveis e podem fazer parte do cardápio de Páscoa sem medo. Para tanto, vale a receita infalível dos nossos ancestrais portugueses: bacalhau com batatas, cebola, pimentão, alho, tomate e azeite. Evite as variações com leite de côco, creme de leite, manteiga, queijos e ovos, que aumentam muito o valor calórico, o teor de gordura saturada e o colesterol. “Pensando apenas no azeite, já há motivos para preocupação com as calorias do prato, uma vez que 100g dele confere quase 900 calorias à receita, como toda gordura, seja ela óleo vegetal ou banha de porco. Para reduzir as calorias, basta reduzir a medida de azeite indicada na receita, com o objetivo de obter um prato saboroso, mas menos calórico”, recomenda a médica.
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