foto: Renato César Ribeiro
Economista e apresentador do programa Manhattan Connection, do GNT, Ricardo Amorim palestrou sobre o tema “Economia & Cenários” na Expogestão 2009 em Joinville. Unindo visão global com conhecimento do contexto brasileiro, ele foi um dos primeiros a prever, ainda em 2007, a atual crise mundial.
Renato César Ribeiro: Quais são os indicadores que baseiam o raciocínio de sua palestra, que mostra um futuro promissor para a economia brasileira?
Ricardo Amorim: São vários. Se você pegar o fluxo de capital dos últimos anos, nunca antes na história desse País, passou-se a se ganhar mais dinheiro aqui do que fora, com a aquisição de empresas estrangeiras pelas brasileiras, por uma série de razões. Em segundo lugar, o custo de financiamento das empresas brasileiras no exterior hoje é igual ao das empresas estrangeiras. A gente tinha uma grande desvantagem: o capital aqui custava mais caro. Só que a queda de juros no mundo tornou o capital barato em tudo que é canto, inclusive aqui. A gente passou a ter mais crescimento e mais geração de lucro. Não só empresas brasileiras, mas chinesas e indianas também. Quem está vendendo hoje são os europeus e americanos. E aí tem a ver com a crise. O que eu tento mostrar é que esse processo começou muito antes da crise.
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Renato César Ribeiro: O que fala a sua palestra?
Ricardo Amorim: O foco da minha palestra, em primeiro lugar, em algumas mudanças que tem acontecido na economia mundial nos últimos dez anos e o que isso mexe no Brasil e na vida dos brasileiros. Essas mudanças basicamente têm a ver com um papel muito maior, muito mais importante, da Ásia no mundo. E a Ásia tem duas características principais: são países muito pobres e muito populosos. Quando esses países assumem o papel mais importante, ocorrem duas mudanças que para o Brasil são fundamentais. A primeira delas é que a Índia e a China, hoje qualquer coisa que você olhe é chinês. À medida que isso aconteceu, o preço dos produtos no mundo começou a cair. Essa intensificação da globalização jogou a inflação para baixo. Então esse é o primeiro ponto. Com a inflação mais baixa, caiu a taxa de juros mundial. Essa queda da taxa de juros explica o boom de crédito que a gente teve no Brasil inteiro, é o que explica depois a crise imobiliária americana. Mas mais especificamente, para o Brasil, isso causa um momento. Um dos grandes problemas brasileiros é como os juros sempre foram muito altos, a gente não tem crédito. E por não ter crédito o crescimento sempre foi limitado. Então você olha para os últimos anos, você vê boom imobiliário, aumento de vendas no varejo, de automóveis, de bens duráveis em geral, tem a ver com isso. Essa história começa lá fora. E isso não aconteceu só no Brasil. Aconteceu em um monte de países. Então esse é um primeiro foco. Segundo foco, como esses países são muito pobres, as populações são muito pobres, quando a gente começa a crescer um pouco mais, o que eles consomem são produtos básicos, principalmente comida, toda parte de metais minerais que eles precisam quando o pessoal sai do campo, vai para cidade, e constrói infra-estrutura urbana, então isso vai desde estrada, toda a parte de intercomunicações, casas e shoppings... o que for. Para construir isso, eles precisam desses metais minerais que não existem ou existem em quantidade limitada, menos do que eles estão precisando na China e na Índia. E é daqui que eles compram. Então, a outra coisa que isso causou, é que há uma alta grande do preço desses produtos, que são as chamadas commodities. E em segundo lugar, um aumento do volume que a gente exporta disso. Essas duas coisas fizeram com que o Brasil tivesse, nos últimos anos, um superávit comercial imenso e, por sua vez, que o real se apreciasse muito, que o dólar caísse. Quando o dólar cai, os produtos importados ficam mais baratos aqui. E esses produtos mais baratos trazem a inflação do Brasil para baixo e causa aquele boom de crédito. A parte importante da história é que eu acredito que esse processo vai durar enquanto o processo de migração do campo para a cidade na India e na China continuar. Na hora que a gente olha a quantidade de gente que ainda vive no campo lá em relação ao resto do mundo, mesmo em relação ao Brasil, provavelmente isso vai durar por décadas ainda. O que significa o seguinte: mesmo que o Brasil não faça nada muito certo, é muito provável que nos próximos 10,20, 30 anos vão ser, no mínimo, bastante razoáveis para gente. Na melhor das hipóteses, vão ser espetaculares. A gente não precisa acertar tudo para que as coisas fiquem boas. A gente só precisa não errar tudo. A gente até pode errar bastante, que é o que aconteceu nos últimos anos. Você pega os últimos cinco anos, o Brasil melhorou em um monte de coisas, para mim talvez fique mais óbvio por ter passado 8 anos fora e ter voltado há 8 meses. O grande foco da minha palestra é isso: está acontecendo várias coisas lá fora que têm impacto imenso no Brasil e muito benéficos e em longo prazo. Tivemos alguns meses complicados, fala-se muito em crise, mas teremos os próximos meses nadando em braçadas. O meu foco é justamente esse; porque no ano que vem o PIB do Brasil vai estar crescendo 5% ao ano, isso vai ser sustentado por vários anos, o que isso significa pelo ponto de vista de oportunidades de negócios aqui, quais são os setores que mais vão se beneficiar com esse processo, o que dá para fazer em função disso.
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