segunda-feira, 27 de julho de 2009

Lixo é problema sério


Hoje em dia, a maioria das pessoas já sabe o que é coleta seletiva e reciclagem. Sabe-se da importância de reaproveitar materiais. Mas isso ainda não se tornou uma prática normal para milhares de brasileiros. O que falta? E o que fazer?

Por: Renato César Ribeiro

A preocupação ambiental é cada vez mais flagrante em todo o planeta. Já é conhecimento universal que é importante separar o que é do que não é reciclável. Mas muita gente ainda resiste. Por isso, no Rio de Janeiro, em 1991, surgiu a Recicloteca, que é um Centro de Informações sobre Resíduos Sólidos e Meio Ambiente.

Criado pela ONG Ecomarapendi e patrocinado pela Ambev, o projeto pesquisa, organiza e difunde informações sobre as questões ambientais, com ênfase na redução, reaproveitamento e reciclagem do lixo. A Recicloteca é uma das organizações pensantes do Brasil na preocupação com o meio ambiente.

Eduardo Bernhardt, consultor da Associação Ecológica Ecomarapendi e da equipe da Recicloteca, avalia que a reciclagem virou uma jogada de marketing: “Isso a tornou pouco direcionada à questão ambiental e muito à do lucro”. É por isso que ele vê “de maneira angustiante e pouco esperançosa” essa causa no País.

Diminua o lixo

Porém a reciclagem é um ato útil sim. “A reciclagem é útil, pois na maioria dos casos ajuda a diminuir a quantidade de lixo nos lixões, poupa energia elétrica, água e gera emprego e renda. Mas sob o aspecto ambiental ela não é tão importante quanto reduzir a quantidade de lixo na fonte e reaproveitar o que se puder”, explica Bernhardt.

Ele complementa que diminuir a quantidade de lixo que geramos é a maneira mais rápida, fácil, eficiente e inteligente de se minimizar os problemas sociais, ambientais e econômicos. “Qualquer um pode praticar a redução escolhendo os produtos que venham com menos embalagem ou mesmo sem embalagem nenhuma”, complementa.

Ações em Santa Catarina

Não é só no Rio de Janeiro que existe a preocupação com a coleta seletiva. Nos dias 21 e 22 de março, mais de 50 barcos participaram do Velejando pela Copa Verde, uma regata que reuniu dicas e mensagens ecológicas, na Lagos da Conceição em Florianópolis. Em Balneário Camboriú, alunos do Maternal do Núcleo de Educação Infantil Anjo da Guarda se mobilizaram no Dia do Consumidor Consciente, 13 de março. “A natureza está pronta a nos ajudar desde que façamos a nossa parte”, afirmou Ana Paula Ramos, coordenadora de Balneário Camboriú.

A empresa responsável pela coleta seletiva de lixo em algumas das principais cidades catarinenses é a Ambiental (ex-Engepasa). Em municípios como Itajaí, Jaraguá do Sul, Joinville e São Francisco do Sul (SFS) esse trabalho é realizado. Paulo Eduardo, gerente da Ambiental de SFS, explica que no seu caso, o coletado é doado à Aecar (Associação Ecológica de Catadores de Materiais Recicláveis de São Francisco do Sul.

Naquela cidade litorânea, são coletados em torno de 35 toneladas de lixo seletivo por mês, montante que a Aecar vende e divide a renda entre seus cooperados. Paulo confirma que esses trabalhadores têm reclamado do baixo valor oferecido, o que tem feito com que muitos migrem para outras atividades.

Sobre uma resolução da questão, Paulo tem sua posição bem clara: “Não há solução mágica que possa resolver o problema. A meu ver, é preciso conscientização e empenho de todos neste sentido”.

Caminho para a solução

Para Eduardo Bernhardt, um avanço na questão ambiental seria a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tramita em Brasília há cerca de 15 anos. “Mesmo que ela saia com falhas, pode ser usada como um marco regulatório para que estados e municípios ajam em uníssono especialmente para que o lixo seja tratado sob a luz de um plano de gerenciamento de resíduos e não como uma obra ou serviço municipal comum”, opina.

A partir disso, educação, políticas públicas e envolvimento dos empresários deixam de serem ações pontuais, desencontradas e temporárias para realmente fazerem parte da solução. “O lixo é um problema sério demais pra ser tratado como apenas mais uma responsabilidade humana”, alerta Eduardo Bernhardt.

Ações práticas

Sacolas: O uso de sacolas retornáveis em detrimento às sacolas plásticas é uma forma de diminuir a quantidade deste tipo de resíduo.

Mate, guaraná natural e sucos: prefira os que vem concentrados. Pode-se reduzir o volume e peso do lixo oriundo destas bebidas em até 80% escolhendo as bebidas concentradas, que, aliás, acabam custando menos.

Amaciante de roupas: em alguns lugares já existe a versão concentrada em embalagem de 500 ml que rende o mesmo que uma embalagem de 2 litros. Redução de 75 % no volume e peso deste resíduo.

Leite: o leite de saquinho é mais saudável que o leite em embalagem longa vida. O saquinho não só é mais leve e menos volumoso que a caixa longa vida, como poderá ser totalmente reciclado. Da longa vida geralmente se recupera apenas o papel. O resto é jogado fora.

Sardinha: evite comprar aquele tipo que vem numa lata envolvida com um plástico ou caixinha de papelão.

Frios: evite comprar os que vem em bandeja de isopor. O isopor não protege nada, é pura estética. Vira um resíduo que dificilmente será reciclado. Peça para colocar seus frios fatiados em um saquinho de plástico. Dá no mesmo pra consumidor.

Filtro de Café: evite os filtros de papel, descartáveis. Prefira um filtro de café permanente, aquele que tem uma telinha bem fina, que é lavável e será usado inúmeras vezes.

Biscoitos: prefira as embalagens convencionais, evitando as que trazem os biscoitos duplamente embalados, ou seja, saco dentro do saco.

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Como reciclar e fazer a coleta seletiva?

Bernhardt esclarece que “em primeiro lugar é preciso saber quem vai receber o material reciclável. A seguir é só separar os materiais que serão recolhidos ou levados a esse lugar. É fundamental que os materiais estejam limpos e secos”. Algumas ações simples, além de serem benéficas para o meio ambiente, geram economia de dinheiro. “Não é raro que produtos com mais embalagem sejam mais caros”, avisa.

O problema da reciclagem atualmente é o baixo preço do material para os catadores e cooperativas. Também tem a dificuldade que as pessoas normalmente não lavam as peças antes. “Isso reduz o valor do material e expõe essas pessoas a doenças”, alerta o membro da equipe da Recicloteca.

Não recicláveis

De acordo com Eduardo Bernhardt quase tudo é reciclável. O problema é que para devidos materiais não existe a tecnologia ou não é economicamente viável, como por exemplo da segunda situação, o caso do poliestireno expandido, conhecido popularmente como isopor. De modo geral, o que hoje não precisa ser parte da coleta seletiva é:

Papéis não recicláveis:
- Papéis e plásticos compostos, especialmente os que venham com um lado aluminizado;
- Papel higiênico, guardanapo e toalhas de papel usadas;
- Papel sujo;
- Papel carbono, laminado e vegetal;
- Celofane.

Plásticos não recicláveis:
- Espuma, isopor e adesivo;
- Fraldas descartáveis.

Metais não recicláveis:
- Latas de aerossol, inseticida e tinta.

Pilhas, baterias e lâmpadas podem ser recicladas, mas na prática não há iniciativas de fazê-lo em larga escala.

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